terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A Estrutura Significante e a Pulsão

Marcos Spagnuolo Souza
Resumo do capítulo “A estrutura significante e a pulsão” escrito por Antônio Quinet no livro intitulado “A descoberta do Inconsciente”
O que não foi aceito pelo consciente passa a ser representação recalcada constituindo o inconsciente. Recalque e inconsciente são, portanto, correlativos. Os recalques subsistem no inconsciente que se estrutura como uma linguagem da pulsão. O que foi recalcado ou não aceito pelo consciente fica no inconsciente em forma pulsional, ou seja, em forma de energia potencial. Esta energia potencial se manifesta em forma significante, isto é, em figuras, em símbolos que representam o pulsional. O significante é apenas uma forma esvaziada de sentido, como uma palavra estrangeira desconhecida ou o nome próprio que, embora designe nada signifique. É difícil separar pulsão de significante. A pulsão é o recalcado em forma de energia potencial inconsciente, sendo que está energia toma forma e estas formas são denominadas de significantes e os significantes não possuem sentido, são apenas significantes. O inconsciente não é pura articulação de significante. O significante é a manifestação da energia pulsional. A energia pulsional trabalhada ou não afeta diretamente a estrutura psíquica.
O pulsional pode ser Eros e Tanatos. Do Eros brotam as flores da união, à aspiração ao Um, à vida, a reprodução. Do Tanatos brotam as flores do mal, onda a pulsação da vida é mordida pela morte, destruição, desunião, angustia e impulso que na vida só quer morrer. A pulsão de morte é o que vem fazer objeção ao Um da relação sexual de complementaridade prometida por Eros.
O pulsional Eros e Tanatos se manifestam em formas significantes que surgem nos sintomas, nos sonhos e nos atos falhos. O sintoma, como um derivado do recalcado, é uma formação do inconsciente, ou seja, uma formação substitutiva do significante recalcado sendo, portanto, uma metáfora. O sintoma é uma atividade sexual, sendo o modo pelo qual o paciente goza. A pulsão se satisfaz no sintoma e logicamente o sintoma pode ser de vida ou de morte. Os atos falhos são diferentes dos sintomas, pois são manifestações pulsionais em que o sujeito repete ao invés de recordar. Os atos falhos equivalem a uma confissão do sujeito. Esses atos exprimem o que o sujeito tem a intenção de guardar para si, ao invés de transmitir aos outros. Nessa confissão, a dimensão do Outro está sempre presente: o sujeito envia, assim, sem querer querendo, uma mensagem inconfessa. O ato falho é, na verdade, bem-sucedido em dizer sobre o recalcado. O ato falho o sujeito endereça sua mensagem ao Outro e possui valor de verdade.
Para que os recalques possam emergir a psicanálise opera sobre o inconsciente, que dá prevalência ao significante, pois o significado nada mais é que outro significante que, junto com o primeiro, produz efeito de sentido.
Processo de análise é o processo de deciframento dessa articulação significante, que nada mais é do que um desdobramento, um desenrolar das cadeias de associação de significantes. O que mostra que quem faz a interpretação dos seus próprios sonhos é o sonhador. Quem interpreta é, portanto, o próprio sujeito, ao deixar-se vagar por suas associações. Na análise o analista não pode atribuir os seus próprios significados aos significantes do paciente. Necessário ouvir quais são os significados do analisado, ou seja, qual é a cadeia associativa que ele desenrola. Isso muda completamente a teoria da interpretação.
Da análise, espera-se que o paciente conheça os significantes primordiais que o determinaram em sua história e em sua vida a partir da decifração do inconsciente, para que possa deles se desalienar escapando de seu poder de comando. Para que o paciente tenha consciência dos seus significantes primordiais, o analista deve ter condições de oferecer um espaço propício para o inconsciente do paciente se manifestar. O analista para o paciente é o lugar onde o inconsciente se manifesta, o local onde o paciente dirige sua fala. O Outro como sendo o lugar de onde pode ser colocada a questão de sua existência, isto é: de sua sexualidade e de seu desejo, de sua procriação e de sua filiação, de sua existência e de sua morte, do destino que terá sido o seu, enfim. Outro, portanto: um lugar de questionamento do sujeito. O outro é um lugar, pois o Outro não é ninguém. O analista, prestando-se a ser o lugar, faz com que, através da associação livre, o inconsciente se presentifique e possa ser decifrado pelo próprio sujeito. Um paciente em análise dizia para o analista: “Eu sei que você não tem aí nenhuma função, a única coisa que você faz é me fazer falar; aí eu pensei cá comigo, que podia continuar sozinho. Até que entendi que a sua função é essencial, pois é nos momentos em que estou em casa pensando na análise, ou vindo para cá, ou aqui na análise, que começo a pensar as minhas coisas.” Pode parecer estranho, mas o inconsciente se presentifica na poltrona do analista. O inconsciente vai se situar nesse lugar. A função do analista é fazer existir o inconsciente, para que o próprio sujeito possa encontrar as cifras do seu destino, seus significantes mestres.
O analista deixa o paciente em associação livre como sendo a única regra da psicanálise compatível com a decifração do inconsciente. Através da associação livre o paciente vai desenrolando as cadeias significantes até cair em uma formação de pensamento.
Propriedade do significante: A primeira propriedade indica que um significante não se define pelo significado e sim por outro significante, com o qual ele vai estar em oposição. O exemplo freudiano clássico é o jogo do carretel da criança: para simbolizar a ausência e a presença da mãe, ela utiliza um carretelzinho com um fio e emite, num movimento de afastar e aproximar o carretel do seu corpo. A mãe é um significante e o carretel outro significante, a mãe é definida pelo carretel e o carretel é definido pela mãe.
A segunda propriedade existe uma ordem fechada de significantes que constitui a repetição própria ao inconsciente, mostrando que a associação livre não é tão livre, pois as cadeias significantes têm uma amarração que faz com que se esteja sempre voltando aos mesmos lugares.  O encadeamento dos significantes segue determinadas vias particulares de cada sujeito. O inconsciente como o conjunto de cadeias significantes em que cada uma, como um anel, se articula com outra cadeia significante formando assim anéis dentro de um colar, que se articula com outro anel de outro colar, feito de anéis e este com outro colar e assim sucessivamente. O inconsciente é constituído por anéis de cadeias significantes articulados em colares que se conectam entre si. Um significante de uma cadeia faz também parte de outra cadeia significante que se conecta com outros significantes, mostrando assim a sobredeterminação de toda formação do inconsciente.
Terceira propriedade: O inconsciente é equivocidade onde a cadeia significante possui vários significados, mas um sentido que surge devido à posição do significante na sua conexão com os outros significantes. Para se chegar ao significado o que importa é a localização do significante em relação a outro significante. Inconsciente é lugar de várias interpretações.
Em resumo podemos dizer que o não aceito pelo consciente passa ao nível inconsciente e ali fica em forma de energia pulsional potencial. A energia pulsional se manifesta na forma significante, no entanto, manifestando ou não afeta diretamente toda a estrutura psíquica. O analista do inconsciente deve trabalhar com associação livre, deixando as pulsões e significantes se manifestarem livremente. Quem elabora sentido para os significantes é o próprio agente que possui os significantes pulsionais. Os significantes se manifestam em atos falhos, sintomas e sonhos. Cada significante não é isolado, mas pertence a uma cadeia de significantes e as cadeias de significantes sempre se manifestam. Os sentidos atribuídos aos significantes são vários e dependendo da conexão com outros significantes.

REFERÊNCIA
QUINET, Antônio. A descoberta do inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

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