segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Retornando a Freud com Lacan


Marcos Spagnuolo Souza
Resumo do capítulo “Retornando a Freud com Lacan” escrito por Antônio Quinet no livro intitulado “A descoberta do Inconsciente”.
Osupereu” é a sociedade que quer elaborar um “eu” ideal dentro dos parâmetros sociais. O supereu esta sempre apontando o caminho para atingir o ideal social. A civilização é o lugar da expressão do “supereu” na medida em que exige sempre do “eu” a renúncia pulsional. O “supereu” aparece como figura de autoridade, de imposição, de comando e até mesmo de tirania. Está sempre acuando o “eu” ao forçá-lo a realizar o impossível de suas exigências, empurrando-o a satisfazer seus ideais e, ao mesmo tempo, a renunciar a pulsões.
O “eu” é o senhor da consciência e do corpo. O “eu” diz penso, logo sou. O “eu” se define pelo que está falando, pelo que está pensando e pelas suas ações corporais. O “eu” possui pensamento consciente. O “eu” não se confunde com o sujeito do desejo inconsciente. O “eu” barra o desejo do sujeito inconsciente. O “eu” nunca compreende o inconsciente e o sujeito do desejo.
O inconsciente é o barrado pelo “eu”. O inconsciente comporta desejos que o “eu” não-quer-saber. É constituído de significantes, que deslizam sem cessar não se detendo em significados. Significantes articulados a outros significantes. Significantes que materializam desejos. São duas as leis do inconsciente, ou seja, a metáfora e a metonímia. A metáfora é uma substituição de um significante por outro significante. Tomemos uma frase: A mulher é uma rosa. Será que a mulher é uma rosa? Uma planta? Rosa é uma metáfora. A metonímia: “Trinta velas despontam no horizonte” Ao invés de se falar barco, fala-se vela, de acordo com a definição da metonímia que é a parte pelo todo, pois se tomou parte do barco, a vela, para se referir ao barco. A metáfora constitui o sintoma, a metonímia caracteriza o desejo. O desejo é marcado pela falta, por aquilo que falta.
O inconsciente é significante e não é significado. Significante (a palavra) e Significado (Conceito): Quando se diz árvore, temos o que ela significa e o seu som. Quando se diz árvore, todo mundo já tem a representação de alguma árvore. Toda palavra, portanto, que ele chama de signo lingüístico, tem seu som, que ele chama de imagem acústica (o simples som), e o conceito de árvore, ou seja, o significado daquele som que é a coisa que o som designa. A imagem acústica, esse som extraído de seu significado, para aquém ou para além do conceito que a representa, o puro som, é o significante. (O som é o significante e o conceito é o significado). Lacam vai inverter essa relação, colocando o significante em cima e o significado em baixo (S/s) porque o inconsciente se interessa muito mais pelo significante do que pelo significado, ele é constituído por cadeias de significantes. Por mais que tenhamos um vocabulário em comum e que eu tenha a impressão de me comunicar com a audiência, o que digo evoca em cada um as coisas distintas que fazem associar a outras tantas coisas. As palavras que uso atribuo determinados significados e, felizmente, há alguns significados em comum que podemos partilhar, senão todos falariam um dialeto particular que seria incompreensível para qualquer outro. Se, por um lado, partilhamos de significados comuns a certos significantes, por outro lado, o fato de falarmos a mesma língua não impede o mal-entendido próprio à linguagem, que nos indica que não estamos tão distanciados da torre de Babel. Cada um tem o seu “idiolês”. No dicionário, significantes têm não um, porém uma série de significados.

No inconsciente origina-se a pulsão que possui sua causa no desejo. Pulsão é o impulso para a satisfação do desejo. Trata-se de um impulso perverso, pelo fato de usar o outro não como uma pessoa, mas apenas um pedaço de seu corpo para satisfazer a pulsão, pois a pulsão não considera o parceiro como um sujeito e sim como um objeto. O desejo nunca será satisfeito com algum objeto. Não é pelo fato de se encontrar num objeto que vai saciar a fome que a pulsão vai deixar de se manifestar. Continua-se querendo comer uma determinada coisa, e em seguida outra e mais adiante ainda outra, apesar de não se estar mais com fome. Quanto mais se come, mais apetite se tem. Pode-se também querer comer alguém, no sentido sexual, fazer sexo oral, comer outra pessoa com os olhos, o que demonstra que a pulsão oral nada tem a ver com o instinto de fome. Existe a pulsão de morte que se manifesta no sentimento de culpa, no masoquismo moral e também nos dissabores da vida amorosa e da transferência. A pulsão de morte é responsável pela repetição, trazendo ao sujeito uma satisfação paradoxal para-além do princípio do prazer, repetição que faz parte do próprio inconsciente, na medida em que se está sempre repetindo os mesmos circuitos das cadeias associativas. Representações inconscientes que se repetem sem cessar. Quem já tem um tempo de análise, certamente já se sentiu e formulou algo como: “Já falei tantas vezes sobre isso! Eu nunca consigo deixar de falar da mesma coisa” – ilustrando assim que o inconsciente está amarrado na repetição, articulado numa pulsão de morte que faz com que se retorne sempre a um mesmo lugar. Retorno ao lugar que faz sofrer, retorno que não é regido pelo princípio do prazer, mas permeia o mundo simbólico, traçando as vias por onde circula o sujeito, demonstrando a incidência da pulsão de morte no inconsciente.
Desejo é desejo de uma coisa, daqui a pouco já é de outra coisa e em seguida de outra. É isso que confere ao desejo seu aspecto enigmático: ele está sempre escapando como no jogo de passar o anel. Você acha que é aquilo e já não é.
O inconsciente nos mostra que o que interessa não é cadeira com seu significado, não é o significante com o seu significado. Não é no nível de significado que o inconsciente se manifesta. O inconsciente se manifesta pelo significante que não possui um significado dado pelo “eu” e sim um significado barrado. O significante pode significar um desejo do inconsciente e não um desejo do “eu”. Descobrir o que remete o significante. Exemplo: uma cadeira pode remeter a uma sena da infância, debaixo da qual aconteceram determinadas coisas fortes da vida libidinal do sujeito. Na análise trata-se não da articulação da cadeira com seu significado e sim da articulação do significante cadeira com outro significante que possui outro significado. O psicanalista para desvelar o inconsciente possui: o sonho, o ato falho, o sintoma e a neurose.
O sonho é realização de desejo apontando para a existência de pensamentos recalcados inconscientes. Nos sonhos, às vezes aparecem pessoas, que não se sabe quem são, mas que, ao se analisar, verifica-se que têm o nariz de um, a boca de outro e o andar de um terceiro, sendo, portanto uma condensação de vários personagens que foram importantes na vida do sonhador. Os sonhos funcionam na base do jogo de significantes. Importância de certos significantes que constituem os significantes mestres norteadores de sua existência. É a partir do relato do sonho, que os significantes vão se conectando com outros significantes, fazendo assim aparecer os significantes recalcados por onde rolam os dados do desejo. 

O ato falho pode ser o esquecimento de um nome e, surgimento de outro nome que substitui o esquecido. Exemplo de ato falho: um presidente que, ao abrir uma sessão que ele sabe que vai ser muito difícil e polêmica, diz em sua fala inaugural: “declaro fechada a sessão, oh! Quero dizer, declaro aberta a sessão”, mostrando ai o ato falho como um ato bem-sucedido em declarar o desejo do sujeito.
Sintoma é o surgimento de um recalque descaracterizado substituindo o que foi de fato recalcado. O que foi recalcado pode ser admitido na consciência, pois se apresenta descaracterizado, que não apresenta risco. É o significante de um significado recalcado. O sintoma fala a quem não quer ouvi-lo. Anorexia é um sintoma: mães respondem ao pedido de amor da criança dando alimento o tempo todo. A criança poderá apresentar anorexia como uma forma de dizer que não é o alimento que ela quer. Quando o “eu” não permite a pulsão satisfazer o desejo, a pulsão se satisfaz no sintoma.
Neurose é uma angustia que possui sua origem na divisão do que o “eu” não quer o que o inconsciente quer.  O sujeito é dividido entre o que ele quer inconscientemente e o que ele conscientemente não quer ou ignora que quer. Sujeito dividido: divisão entre o inconsciente e o consciente.
Referência
QUINET, Antônio. A descoberta do inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

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