sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Desejo Logo Ex-sisto

Marcos Spagnuolo Souza

marcospagnuolo@uol.com.br

Resumo do capítulo “Desejo Logo Ex-sisto” escrito por Antônio Quinet no livro intitulado “A descoberta do Inconsciente”.

No primeiro momento é importante elaborarmos a diferenciação entre “eu” e “sujeito”. O “eu” é produto da cultura que estamos inseridos, elaborado pelo outro, ou podemos dizer que o “eu” é a mascara que usamos para que as outras pessoas nos vejam como nós queremos que elas nos vejam. O “eu” é como se fosse às insígnias com as quais me paramento para o convívio com os outros da coletividade. Aprofundando, salientamos que o “eu” funciona como barreira ao sujeito do inconsciente.

A respeito do “sujeito” temos duas colocações, sendo a primeira no viés de Descartes e o segundo viés sendo o olhar da psicanálise. Descartes salienta que o “sujeito” é a coisa pensante, o “sujeito” está no pensamento. “Penso logo existo”, assim sendo substancializa o sujeito na coisa que pensa. O “sujeito” para Descartes é uno, inteiro e identificável. O “sujeito” para a psicanálise é o pensamento inconsciente. O “sujeito” é o inconsciente, lá onde falta alguma coisa se encontra o sujeito, é lembrança apagada, vazio de representação, oco, não possui substância, está fora do pensamento. O sujeito é patológico por definição afetado pela estrutura que obedece a uma lógica. O sujeito está no pensamento como ausente, como pensamento barrado. Lá onde penso eu não estou. O sujeito se experimenta como falta-a-ser, pois, não encontra representação simbólica para o seu ser. O inconsciente é o pensamento ausente, o pensamento rejeitado, desútil, no entanto, mesmo sendo rejeitado pelo “eu” ele não cessa de se manifestar, é o saber próprio do “sujeito”.

O “sujeito” é desejo, o “sujeito” é fundamentalmente desejo; desejo de não ser e de não ter, desejo de jamais ser e de jamais ter. O desejo do “sujeito” é indestrutível, inominável, indefinível, irrepresentável, insubstancial, sempre desejo de outra coisa, o pensamento não o define, não há representação própria para o desejo, não tem substância; vazio, aspiração falta. O desejo do “sujeito” é palavra sem significado, ou na palavra sem significado desliza o sujeito.

O “sujeito” se manifesta na hesitação, na dúvida, nos escombros da patologia (doença), caleidoscópios (variedade infinita de aspectos) oníricos (sonho), fantasmagorias (figuras luminosas na escuridão) da ópera (espetáculo) privada, corredores das vesânias (mania, loucura, disparate). Descobrimos o sujeito no pensamento ausente, pensamento barrado. Lá onde penso eu não estou, mas, onde não penso estou. O “sujeito” se manifesta no sintoma. O sintoma é a hesitação, a dúvida, o que se manifesta no intervalo.

O “sujeito” pode ser descoberto na clínica onde o psicanalista solicita o “sujeito”, solicita o “sujeito” do desejo, o sujeito do inconsciente que não responder ao “eu” que não quer saber nada do que o “eu” sabe. O psicanalista não ataca o sintoma, mas, acolhe o sintoma para que ele possa ser desdobrado e decifrado, fazendo emergir o sujeito. Na clínica deve deixar o sujeito bater as asas do desejo. Na clínica o psicanalista se lança no vazio do saber instável (incompleto) que está sempre a ser reconstruído. O ato analítico do psicanalista não possui a rede de segurança do grande Outro.

REFERÊNCIA

QUINET, Antônio. A descoberta do inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.







Nenhum comentário:

Postar um comentário