segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo

Marcos Spagnuolo Souza

Esse artigo é o resumo do capítulo denominado “Sobre os Arquétipos do Inconsciente Coletivo” do livro “Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo” de JUNG, Carl Gustav.
Inconsciente: 
Os indivíduos não esquecem quem eles são (sujeitos) e não podem em hipótese alguma perder a consciência. Os indivíduos mantém firmemente ancorados na terra, desconhecendo o inconsciente. Todo o esforço da humanidade concentra-se na consolidação da consciência.
Na consciência, somos nossos próprios senhores, mas se ultrapassarmos o pórtico da consciência, percebemos aterrorizados que somos objetos do inconsciente. Saber isso é decididamente desagradável, pois nada decepciona mais do que a descoberta de nossa insuficiência.
O inconsciente é o estado dos conteúdos reprimidos ou esquecidos. Espaço de concentração dos conteúdos esquecidos e recalcados. Uma camada superficial do inconsciente é pessoal (Inconsciente Pessoal).
Os deuses são fatores psíquicos, ou seja, modelos do inconsciente.
Para nós, tratar com o inconsciente é uma questão vital. Todos aqueles que já tiveram experiências com o inconsciente sabem que o tesouro jaz no fundo da água e tentam retirá-lo de lá.
Sombra
O encontro consigo mesmo pertence às coisas desagradáveis que evitamos, enquanto pudermos projetar o negativo a nossa volta. Se formos capazes de ver nossa própria sombra, e suportá-la, sabendo que existe,teria resolvido apenas uma pequena parte do problema.
A sombra é uma parte viva da personalidade e por isso quer comparecer de alguma forma. Não é possível anulá-la argumentando, ou torná-la inofensiva através da racionalização. No entanto, mais cedo ou mais tarde, as contas terão que ser acertadas. A sombra é, no entanto, um desfiladeiro, um portal estreito cuja dolorosa exigüidade não poupa quem quer que desça ao poço profundo.
Inconsciente Coletivo
O inconsciente pessoal repousa sobre uma camada mais profunda, que já não tem sua origem em experiências ou aquisições pessoais, sendo inata. A camada mais profunda é o que chamamos inconsciente coletivo, não sendo de natureza individual, mas universal; possuindo conteúdos e modos de comportamentos que são os mesmos em toda parte e em todos os indivíduos, substrato psíquico comum de natureza psíquica suprapessoal que existe em cada indivíduo.
Os conteúdos do inconsciente coletivo são formados por imagens (emoções) universais que existiram desde os tempos mais remotos. O inconsciente coletivo é encontrado nos ensinamentos esotéricos, nos mitos e nos contos de fada que são expressões simbólicas do drama interno e inconsciente que a consciência consegue apreender através de suas projeções. Os ensinamentos secretos procuram captar os acontecimentos invisíveis do inconsciente. Os ensinamentos secretos contêm uma sabedoria revelada, originalmente oculta, e exprimem os segredos do inconsciente. As figuras do inconsciente sempre foram expressas através de imagens protetoras e curativas, e assim expelidas da psique para o espaço cósmico.
O inconsciente coletivo é tudo, menos um sistema pessoal encapsulado, é objetivamente amplo com o mundo e aberta ao mundo. Lá eu estou na mais direta ligação com o mundo, de forma que facilmente esqueço quem sou na realidade. Perdido em si mesmo é uma boa expressão para caracterizar este estado.
Quando o inconsciente nos toca e já o somos. Uma onda do inconsciente pode facilmente nos arrebatar e esquecemos quem somos e passamos a fazer coisas nas quais que desconhecemos. A consciência submerge com facilidade no inconsciente, dando espaço à possessão.
Quem olha dentro da água vê sua própria imagem, mas atrás dele surgem seres vivos; possivelmente peixes, habitantes inofensivos da profundeza – inofensivos se o indivíduo não fosse mal-assombrado para muita gente. Trata-se de seres aquáticos de um tipo especial. Às vezes, o pescador apanha uma ninfa em sua rede, um peixe feminino, semi-humano. A sereia é um estágio ainda mais instintivo de um ser mágico feminino, que designamos pelo nome de anima. Também podem ser ondinas, melusianas, ninfas do bosque, graças ou filhas do rei dos Elfos, lâminas e súcubus que atordoam os jovens, sugando-lhes a vida. Essas figuras seriam projeções de estados emocionais nostálgicos e de fantasias condenáveis, dirá o crítico moralista. Impossível não admitir que esta constatação é de certa forma verdadeira. Será a sereia apenas um produto de um afrouxamento moral? Não existiram tais seres em épocas remotas, em que a consciência humana nascente ainda se encontrava por inteiro ligado à natureza? Seguramente devem ter existido primeiro os espíritos na floresta, no campo, nos cursos de água, muito antes dos questionamentos da consciência moral. Além disso, esses seres eram tão temidos como sedutores, de modo que seus estranhos encantos eróticos não passavam de características parciais. A consciência era, então, bem mais simples e o domínio sobre ela absurdamente pequeno. Uma quantidade infinita do que agora sentimos como parte integrante de nossa própria natureza psíquica ainda volteia alegremente em torno do homem primitivo em amplas projeções.
O inconsciente coletivo não se desenvolve individualmente, mas é herdado. Ele consiste de formas preexistentes, arquétipos, que só secundariamente podem tornar-se conscientes, conferindo uma forma definida aos conteúdos da consciência.
Arquétipos: Os conteúdos do inconsciente coletivo são chamados arquétipos. O conceito de arquétipo só se aplica às representações coletivas, conteúdos psíquicos que ainda não foram submetidos a qualquer elaboração consciente. Os arquétipos se modificam através da conscientização assumindo matizes que variam de acordo com cada consciência individual.
Os arquétipos aparecem como personalidades atuantes em sonhos e fantasias.
O perigo principal é sucumbir à influência fascinante dos arquétipos, o que pode acontecer mais facilmente quando as imagens arquetípicas não são conscientizadas. Caso exista uma predisposição psicótica pode acontecer que as figuras arquetípicas escapem ao controle da consciência, alcançando uma total independência, ou seja, gerando fenômenos de possessão. No caso de uma possessão pela anima, por exemplo, o paciente quer transformar-se por autocastração numa mulher chamada Maria.
O que não consegue mais controlar o inconsciente. Em todo caso de dissociação é, portanto, necessário integrar o inconsciente na consciência. Trata-se de um processo sintético que denominei processo de individuação.
O método terapêutico da psicologia complexa consiste por um lado numa tomada de consciência, o mais completa possível, dos conteúdos inconscientes constelados.
Uma vez que os arquétipos são relativamente autônomos como todos os conteúdos numinosos, não se pode integrá-los simplesmente pro meios racionais, mas requerem um processo dialético, isto é, confronto propriamente dito que muitas vezes é realizado pelo paciente em forma de diálogo.
Há boas razões para supormos que os arquétipos sejam imagens inconscientes dos próprios instintos, representam o modelo básico do comportamento instintivo. Os instintos são forças motrizes especificamente formadas, que perseguem suas metas inerentes antes de toda conscientização, independente do grau de consciência. Podemos admitir sem hesitação que a atividade humana é em grande escala influenciada por instintos.
A fonte principal para compreender os arquétipos está nos sonhos, que têm a vantagem de serem produtos espontâneos da psique inconsciente, independentemente da vontade, sendo, por conseguinte, produtos da natureza, puros e não influenciados por qualquer intenção consciente. Outra fonte de acesso ao arquétipo são as seqüências de fantasias.
Há boas razões para supormos que os arquétipos sejam imagens inconscientes dos próprios instintos, representam o modelo básico do comportamento instintivo.
Como poderemos provar a existência dos arquétipos? A fonte principal está nos sonhos, que têm a vantagem de serem produtos espontâneos da psique inconsciente, independentemente da vontade, sendo, por conseguinte, produtos da natureza, puros e não influenciados por qualquer intenção consciente. Outra fonte de acesso ao material necessário é a imaginação. Entende-se como sendo uma sequência de fantasias que é gerada pela concentração intencional. A intensidade e a frequência dos sonhos são reforçadas pela presença de fantasias inconscientes e inapreensíveis e que quando estas emergem na consciência o caráter dos sonhos se transforma tornando-os mais fracos e menos freqüentes. O sonho muitas vezes contém fantasias tendentes a se tornarem conscientes. A sequência de fantasias que vêm a tona alivia o inconsciente e representa um material rico de formas arquetípicas.
Anima
O confronto com a sombra é obra do aprendiz, o confronto com a anima é a obra-prima A relação com a anima é outro teste de coragem, uma prova de fogo para as forças espirituais e morais do homem. Jamais devemos esquecer que, em se tratando da anima, estamos lidando com realidades psíquicas, as quais até então nunca foram apropriadas pelo homem, uma vez que se mantinham fora de seu âmbito psíquico, sob a forma de projeção.
Anima é algo que vive por si mesma e que nos faz viver; é uma vida por detrás da consciência, que nela não pode ser completamente integrada, mas da qual pelo contrário esta última emerge. Embora pareça que a totalidade da vida anímica inconsciente pertence à anima, esta é apenas um arquétipo entre muitos. Por isso, ela não é a única característica do inconsciente, mas um de seus aspectos. A imagem da anima é geralmente projetada em mulheres. Tudo que é tocado pela anima torna-se numinoso, isto é, incondicional, perigoso, tabu, mágico. Ela é a serpente do paraíso do ser humano inofensivo e, cheio de bons propósitos e intenções. Destroi inibições morais e desencadeia forças que seria melhor permanecerem inconscientes. Anima quer vida, ela quer o bom e o mau. A anima é conservadora e se prende à humanidade mais antiga de um modo exasperante. Ela prefere aparecer em roupagens históricas, com predileção pela Grécia e pelo Egito. Essa mesma anima pode aparecer como um anjo de luz, como psicopompos, e conduzi-lo até o significado mais alto.
Anima não deixa de ser um impulso caótico da vida, mas ao lado disso é também algo extremamente significativo; um saber secreto ou uma sabedoria oculta, algo que curiosamente contrasta com a sua natureza élfica irracional.
Quanto mais o indivíduo conscientiza da anima, tanto mais ela perde seu caráter impetuoso e compulsivo. Pouco a pouco o indivíduo vai criando conscientemente os diques para evitar a inundação do caos e assim surge um novo cosmo. Não se trata de uma nova descoberta da psicologia, mas de uma verdade milenar, da riqueza da experiência da vida vem o ensinamento que o pai transmite ao filho.
O Velho Sábio
O mago é sinônimo do velho sábio, que remonta diretamente à figura do xamã a sociedade primitiva. Como a anima, ele é um daimon imortal que penetra com a luz do sentido a obscuridade caótica da vida. Ele é o iluminador, o professor e mestre, o guia das almas de cuja personificação nem Nietzsche, o destruidor das tábuas da Lei pôde escapar. Nietzsche invocou, através de sua reencarnação no Zaratustra, o espírito superior de uma idade quase homérica, para tornar-se portador e porta-voz de sua própria iluminação e êxtase dionisíaco.
Arquétipos de Transformação
Estes não são personalidades, mas sim situações típicas, lugares e caminhos simbolizando cada qual um tipo de transformação. Tal como as personalidades, estes arquétipos também são símbolos verdadeiros. Os princípios fundamentais são indescritíveis, dada a riqueza de referências, apensar de serem reconhecíveis. O intelecto discriminador sempre procura estabelecer o seu significado unívoco e perde o essencial, pois a única coisa que é possível constatar e que corresponde à sua natureza é a multiplicidade de sentido, a riqueza de referência quase ilimitada que impossibilita toda e qualquer formulação unívoca. Seu início é quase sempre caracterizado por um beco sem saída ou qualquer outra situação impossível; sua meta,em amplo sentido, é a iluminação ou consciência superior, através do qual a situação inicial é superada num nível superior.
Por volta de 1906 deparei (Jung) com a curiosa fantasia de um indivíduo internado há muitos anos. Encontrei-o junto à janela, movendo a cabeça de um lado para outro, piscando para o Sol. Pediu-me que fizesse o mesmo, prometendo que eu veria algo muito importante. Ao perguntar-lhe o que estava vendo, ele espantou-se porque eu nada via, e disse: “O senhor está vendo o pênis do Sol. Quando movo a cabeça de um lado para outro ele também se move e esta é a origem do vento”. Cerca de quatro anos depois, ao estudar mitologia, descobri um livro que comentava um papiro grego da liturgia mitraica que dizia: “Procura nos raios a respiração, inspira três vezes tão fortemente quanto puderes e sentir-te ás erguido e caminhando para o alto, de forma que acreditarás estar no meio de região aérea. O caminho dos deuses visíveis aparecerá através do Sol, o Deus, meu pai; do mesmo modo, ficará visível o assim chamado tubo, a origem do vento propiciatório. Pois verás pendente do disco solar algo semelhante a um tubo. E rumo às regiões do oeste, um contínuo vento leste; se o outro vento prevalecer em direção ao leste, verá, de modo semelhante, a face movendo-se nas direções do vento.”
Experiência relacionada com a divindade: a experiência original da divindade ocorre através do êxtase e pode ser tão terrível que transfigura o rosto de quem passa pela experiência. Bruder Klaus: a visão que aparecera era tão terrível que seu próprio rosto se desfigurou de tal modo que as pessoas se assustavam, temendo-o. Ele se defrontou com uma visão de máxima intensidade. Todos os que se aproximavam dele ficaram assustados. Sobre a causa deste terror, ele mesmo costumava dizer que havia visto uma luz penetrante, representando um semblante humano. Ao visualizá-lo temera que seu coração explodisse em estilhaços. Por isso, tomado de pavor, desviara o rosto, caindo por terra. (Ângelo Silêsio. Jacob Bohme).
Instintos
Instinto: os instintos são comuns nos animais e aos homens. Os instintos são fatores impessoais universalmente difundidos e hereditários, de caráter mobilizador, que muitas vezes se encontram tão afastados do limiar da consciência, que a moderna psicoterapia se vê adiante da tarefa de ajudar o paciente a tomar consciência dos mesmos. São forças motrizes especificamente formadas, que perseguem suas metas inerentes antes de toda conscientização, independente do grau de consciência. Podemos admitir sem hesitação que a atividade humana é em grande escala influenciada por instintos.
A fonte da imaginação são instintos reprimidos, cuja tendência natural é influenciar a mente consciente. Em casos desse tipo entregamos ao paciente a tarefa de contemplar cada fragmento de sua fantasia que lhe parece associativo em que está contido, até poder compreendê-lo.
Bibliografia
JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis: Editora Vozes, 2002.

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