sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Teoria Psicanalítica de Alfred Adler

Marcos Spagnuolo Souza

1 Biografia

Filho de judeus húngaros, nasceu em 1870, formou-se em medicina, psicologia e filosofia pela Universidade de viena. Praticou clínica geral antes de se dedicar à psiquiatria. Em 1902 foi trabalhar com Sigmund Freud, realizando pesquisas no campo da psicanálise. Mais tarde, desliga-se dele por considerar o fator sexual superestimado por Freud.

Morreu quando se encontrava em Aberdeen, Escócia, ministrando um curso de psicologia. Merece lugar de destaque no movimento psicanalítico pela importância que deu ao fator da agressividade.

Adler e Jung foram considerados como dissidentes, renunciaram ou foram expulsos da Sociedade Psicanalítica e formaram dois movimentos dissidentes por eles dirigidos, um em Zurique e outro em Viena. Adler baseando as explicações dos mecanismos de inferioridade e da ânsia do poder deu o seu movimento de Psicologia Individual e Jung adotou o nome de Psicologia Analítica ou Complexa.

Não se pode falar em uma Psicanálise tipicamente freudiana, mas de um movimento psicanalítico poliforme e diversificado.

Alfred Adler introduziu conceitos: "sentimento de inferioridade" ou, mais popularmente, "complexo de inferioridade".

2 Teoria de Base

Em contraste com a psicanálise de Freud a psicologia individual fez a ênfase na importância da vontade consciente e da capacidade dos cada indivíduo para se encarregar de seu próprio destino.

Não postula forças intangíveis profundas na psique e compreende o comportamento em termos de contexto (ambiente físico e social), onde o indivíduo está integrado ao social. O indivíduo como uma entidade unificada e coerente, a vida humana como sendo uma luta dinâmica pela perfeição. O indivíduo sendo uma entidade criativa e autodeterminada.

O poder está dentro de cada um de nós para enfrentar as forças externas. É justamente esta luta com o mundo externo é que molda a nossa personalidade. Não somos instrumentos do destino e não podemos assumir o papel de vítima diante do jogo da vida.

O que determina o nosso comportamento não é o mundo real, mas a nossa concepção do mundo. Os seres humanos moldam as suas próprias personalidades e não se limitam a ser impotentes e governados por forças externas.

A opinião do indivíduo sobre si próprio e sobre o mundo influencia todo o seu processo psicológico. Porque todos os problemas importantes da sua vida são problemas de natureza social, eles precisam ser vistos em seu contexto social.

A estrutura da personalidade de cada indivíduo, incluindo seus ideais e os meios que divisa para alcançá-los, constitui seu "papel de vida". Coerentemente, a este papel o indivíduo subordina suas emoções e desejos específicos. O papel de vida forma-se na primeira infância, sob influência de fatores como ordem de nascimento, inferioridade ou superioridade física, e descaso ou super proteção dos pais.

A busca pela perfeição como fator motivacional humano. Essa busca se expressa por diferentes mecanismos: a relação e a adaptação social; a preocupação do indivíduo em alcançar objetivos preestabelecidos; a luta pela superioridade (incluindo voracidade pelo poder e pela notoriedade); agressividade (em particular frente à frustração), que seria o instinto primário aos quais todos os demais estariam subordinados.

Codificamos, interpretamos seletivamente e desenvolvemos assim um esquema de apercepção individualizado, formando um padrão de relação com o mundo que é distinto de todos os outros e pertence apenas a cada um de nós. Cada indivíduo é essencialmente livre e é, devido a essa liberdade, responsável pelas suas ações e pela sua vida.

Cada pessoa é uma totalidade integrada num sistema social. Cada ser humano é uma entidade única, indivisível, coerente e unificada que tem sempre de ser considerada em relação ao contexto sócio-ecológico de qual é parte integrante. A vida é essencialmente um movimento em direção a uma melhor adaptação ao ambiente, maior cooperação e altruísmo; cada pessoa é o agente criativo de sua própria personalidade, do seu próprio estilo de vida, dirigindo e criando ativamente o seu próprio crescimento.

O meio social e a preocupação contínua do indivíduo em alcançar objetivos preestabelecidos são os determinantes básicos do comportamento humano, o que inclui a sede de poder e a notoriedade. Os complexos de inferioridade, provocados pelo conflito com o envolvimento social, podem traduzir-se numa dinâmica patológica que deve ser tratada de um ponto de vista psicoterapêutico.

O indivíduo que não está interessado no seu semelhante é que tem as maiores dificuldades na vida e causa os maiores males aos outros.

Os objetivos que as pessoas se propõem atingir e os modelos característicos de seu comportamento para atingir os objetivos propostos fornecem a chave para a compreensão do significado que atribuem às suas próprias vidas.

Integração do indivíduo na sociedade é o alvo o que exige um esforço muito difícil de alcançar e uma espécie de equilíbrio psicofísico.

As pessoas sadias são aquelas socialmente úteis, apresentam interesse social e energia para atingir seus objetivos.

Interesse social é uma predisposição alimentada pela experiência para contribuir para a sociedade, mais do que interesse pela sociedade, pelo outro, o conceito implica uma noção de sentimento de comunidade que introduz a idéia de interesse pelos outros não apenas para servir aos nossos próprios objetivos, mas, para desenvolver um interesse pelo interesse dos outros.

A visão do ser humano é holística: unidade de estilo de vida, interesse social ou sentimento de comunidade.

Considera o ser humano em sua relação à totalidade do meio, através de uma abordagem humanista, holística. Necessidade de ver o homem como um todo, unidade funcional, reagindo ao seu meio tanto quanto aos seus próprios dotes físicos, em lugar de vê-lo como um somatório de instintos, desejos e outras manifestações psicológicas.

Encara o homem não apenas como um todo unificado, mas também como parte de outros todos (família, comunidade, sociedade e humanidade). As nossas vidas e todas as nossas atividades desenrolam-se num contexto social.

Necessidade de ver o homem como um todo, unidade funcional, reagindo ao meio tanto quanto aos seus próprios dotes físicos, em lugar de vê-lo como um somatório de instintos, desejos e outras manifestações psicológicas.

O instinto fundamental a ser desenvolvido é o social do qual derivam os sentimentos de amor, amizade, ternura, altruísmo. Tal instituto deve ser reforçado pelos pais e pela educação para não ser perdido. Os pais devem trabalhar a empatia, ou seja, o sentimento de ajudar os outros.

Pelos cinco anos de idade o estilo de vida de cada indivíduo está basicamente determinado, novas experiências podem contribuir para pequenas oscilações, mas a estrutura básica está moldada e adquirimos o estilo que vai caracterizar-nos ao longo da vida.

Certos estilos de vida desenvolvem em função não apenas da relação entre pais e filhos, mas também do tamanho da família, relação entre irmãos e posição ordinal da criança na família. Embora os irmãos tenham os mesmos pais e cresçam quase no mesmo cenário familiar, os seus ambientes sociais não são idênticos. Experiências em ser mais velho ou mais novo que os seus irmãos e estar exposto a atitudes e valores parentais que variam devido a chegada de mais crianças ou outras circunstâncias específicas criam condições únicas na infância que vão influenciar profundamente a formação do estilo de vida de qualquer indivíduo.

A luta construtiva pela superioridade, com forte interesse social e cooperação são os traços básicos do indivíduo saudável.

A vontade de ter poder é importante nos assuntos humanos como o aspecto sexual. A frustração de ter poder cria o complexo inferioridade, um sentimento de fracasso que é a raiz de muitos transtornos.

As grandes tarefas com que cada indivíduo é confrontado são o trabalho, a amizade e o amor. Estas três tarefas estão inter-relacionadas e sucesso nunca conduz sucesso nas outras; elas são no fundo aspectos diferentes do mesmo problema, como viver construtivamente no nosso ambiente.

A saúde mental é caracterizada pela razão, interesse social, e autotranscendência, e as desordens mentais por sentimentos de inferioridade e preocupação egocêntrica com segurança e superioridade ou poder sobre os outros.

3 Aspectos Negativos na Infância

Três condições que dominam a infância e são especialmente negativos:

Inferioridade orgânica: tornam-se auto-centrados e desenvolvem um sentimento de inferioridade e inabilidade para competir com outras pessoas

Crianças mimadas: tem dificuldades para desenvolver interesse social e cooperação e não possuem confiança nas suas capacidades porque sempre tiveram quem fizesse por elas o que elas deveriam ter feito sozinhas, em vez de cooperar com os outros tendem a fazer exigências unilaterais aos amigos e famílias.

Crianças negligenciadas: nunca conhecem o amor e a cooperação pelo que se torna extremamente difícil desenvolver estas capacidades, não tem confiança na sua aptidão para ser útil e ganhar o afeto e a estima dos outros.

A inferioridade física, o mimo e crianças negligenciadas resultam frequentemente em visões distorcidas do mundo, que levam a estilos de vida não adequados.

4 Personalidades Tendentes a Doenças Psíquicas

Agrupou as personalidades humanas tendentes à doença psíquica em três tipos:

1) Tendência a agressividade e dominação o que resulta no sadismo; dependência química, suicídio.

2) Submissão ou dependência resulta a desenvolver fobias, obsessões, compulsões e histerias.

3) Fuga dos objetivos ou da sociedade leva a psicose (fogem completamente da lógica da vida social)

5 Sentimento de Inferioridade

Os pais estabelecem os valores familiares e criam a atmosfera familiar e as crianças decidem qual o seu papel nessa família.

Os objetivos de vida são sempre algo irrealista e podem tornar-se neuroticamente sobrevalorizados se os sentimentos de inferioridade forem demasiado fortes. São estes objetivos que direcionam e dão sentido às nossas atividades; os nossos traços de personalidade não são inatos nem imutáveis, mas apenas traços adotados como modas de orientação na tentativa de atingir os objetivos.

As pessoas tentam compensar psicologicamente seus sentimentos de inferioridade devidos a suas próprias deficiências.

Pessoas com algumas características de inferioridade eventualmente compensam essas fraquezas, assim sendo, a inferioridade pode tornar a sua maior força. A psicanálise não interessa pelo defeito em si, mas pela atitude da pessoa em relação a esse defeito.

Todos nós temos uma predisposição para desenvolver sentimentos de inferioridade, já que nascemos muito fracos e morreríamos sem o prolongado período de dependência dos outros. Durante bastante tempo somos dominados por poderosos adultos que, além de maiores, são mais inteligentes do que nós. Os sentimentos de inferioridade são a nossa mais importante motivação e que todo o progresso resulta da nossa tentativa de compensar esses sentimentos de inferioridade.

Existe um empenho por auto-estima e tentativa de superar o sentimento de inferioridade por meio da procura compensatória de poder, domínio, superioridade, que são alcançados por suas atividades e interesse social no bem comum. Toda criança possui o sentimento de inferioridade por comparação realista com os adultos, maiores e mais hábeis, cuja superação seria sua principal meta na vida.

Não é de estranhar que nós percebemos como inferiores e nos proponhamos a partir daí a compensar as nossas fraquezas. A compensação é uma reação adaptativa e positiva que nos permite aproximar do nosso potencial total; uma incapacidade de efetuar compensação adequada pode originar um sentimento de inferioridade. A luta pelo poder seria então das primeiras compensações de um sentimento de inferioridade.

Para superar sentimento de inferioridade, os indivíduos desenvolvem um estilo de vida, que faz de cada personalidade uma personalidade única: embora todos procurem ultrapassar os sentimentos de inferioridade infantil, embora todos persigam o mesmo objetivo básico, nenhum o faz exatamente da mesma maneira de vida. Existe uma forma individual de adaptar-se e interagir com a vida em geral.

6 Perturbações Psicológicas

A falta de cooperação e o resultante sentimento de inferioridade e fracasso são responsáveis pelas perturbações psicológicas.

Perturbações Psicológicas: ocorre quando um indivíduo se sente inferiorizado e indigno de ocupar um lugar entre as pessoas. O interesse social, que é uma potencialidade inata de qualquer humano, não se desenvolve na presença de fortes sentimentos de inferioridade. Estes são substituídos por uma luta compensatória pela superioridade pessoal.

Neurótico: tendência para encontrar desculpas que explicam por que é que o objetivo não é atingido.

Psicótico: fogem completamente da lógica da vida social e adotam uma realidade de ilusões e alucinações que se ajusta à sua lógica privada. Rejeitam absolutamente o senso comum e são motivados apenas pelos seus próprios interesses. Não possui consciência de suas ações.

Qualquer mudança comportamental é superficial se não for acompanhada por uma alteração de percepção e um aumento do interesse social. Substituir comportamentos inaceitáveis por outros mais adequados não constitui uma mudança do estilo de vida se o indivíduo continuar a não se sentir igual aos outros seres humanos.

7 Psicoterapia

Psicoterapia: pretende-se que os clientes se apercebam das suas idéias enganosas e objetivos irrealistas; reorientação dos objetivos e reajustamento dos conceitos e atitudes pessoais. Os sentimentos de inferioridade dos clientes são suplantados por um crescente interesse social; sentem-se encorajados ao reconhecer que são iguais a qualquer outro ser humano.

O psicoterapeuta conduz o paciente a perceber seu estilo de vida e a orientá-lo e reeducá-lo para melhorar sua situação real, sem qualquer exploração dos conflitos inconscientes. O paciente é encorajado a ações concretas que possam facilitar a sua vida real, como trocar óculos por lentes de contato, caso o paciente sinta inferioridade usando óculos.

O psicoterapeuta deve ajudar o paciente a construir a sua própria personalidade.

A relação estabelecida entre terapeuta e cliente é de igualdade e procura-se uma atmosfera de confiança e aceitação.

Terapeuta: recolhe informações que lhes permite compreender o estilo de vida do cliente. O terapeuta vai gradualmente descobrindo e compreendendo a lógica privada do cliente, e expondo as suas interpretações na forma de hipóteses para que o cliente reconheça que são (ou não) interpretações corretas.

O terapeuta não deve buscar a verdade nem se preocupar com interpretações subjetivas do que se passa na sessão. A relação a ser desenvolvida entre terapeuta e paciente deve ser igualitária, face a face e empática.

Referências

FREUD, Sigmund. A história do movimento psicanalítico. In: Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud, vol. XIV. Rio de Janeiro: Imago Ed. Ltda., 1974.

HOUAISS. Dicionário eletrônico da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva Ltda., 2004.

KAUFMANN, Pierre ed. Dicionário enciclopédico de psicanálise. O legado de Freud e Lacan. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 1996

MIJOLLA, Alain de. Dicionário internacional de psicanálise: conceitos, noções, biografias, obras, eventos, instituições. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2005.

ROUDINESCO, Elisabeth; PLON, Michel. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998.

ZIMERMAN, David. Vocabulário contemporâneo de psicanálise. Porto Alegre: Artmed, 2001.



2 comentários:

  1. é facil o Adler falar de social pois ele era do signo de aquario que é social por natureza

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  2. é facil o Adler falar de social pois ele era do signo de aquario que é social por natureza

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