domingo, 14 de novembro de 2010

Atividades Mentais e Imagens Primordiais

Marcos Spagnuolo Souza
Esse artigo é o resumo do capítulo denominado “Aspectos Psicológicos do Arquétipo Materno” do livro “Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo” de JUNG, Carl Gustav.
Podemos salientar que todas as atividades mentais (pensar, a razão, a compreensão, o imaginar), não representam processos autônomos, livres de qualquer condicionamento subjetivo, apenas a serviço das eternas leis da lógica, mas sim funções psíquicas agregadas e subordinadas às imagens primordiais. Nossas próprias tendências filosóficas e até mesmo o que chamamos nossas melhores verdades são afetadas e diretamente ameaçadas pelas imagens primordiais. Podemos perguntar: será possível que um ser humano pode pensar, dizer e fazer o que ele mesmo é?
Para respondermos a referida pergunta devemos dizer que há um fator apriorístico em todas as atividades humanas, que é a estrutura da inconsciência pessoal e inconsciência coletiva (imagens primordiais). A psique, por exemplo, a do recém-nascido, não é de modo algum um nada vazio, ao qual, sob circunstâncias favoráveis, tudo pode ser ensinado. Pelo contrário, ela é uma condição prévia tremendamente complicada e rigorosamente determinada pelo inconsciente coletivo. No entanto, assim que ocorrem as primeiras manifestações visíveis da vida psíquica, só um cego não pode ver o caráter do inconsciente coletivo sendo manifestado na personalidade singular da criança. É impossível supor que todas essas particularidades sejam criadas somente no momento em que aparecem. 
O ser humano possui, como todo animal, uma psique pré-formada de acordo com sua espécie. O tipo específico humano está contido no inconsciente coletivo. A idéia de que a forma humana não é herdada, mas criada de novo em cada ser humano, é tão absurda quanto à concepção primitiva de que o Sol que nasce pela manhã é diferente daquele que se pôs na véspera. O que é herdado não são as idéias, mas as formas, as quais sob esse aspecto particular correspondem aos instintos igualmente determinados por sua forma.
As imagens primordiais (inconsciente coletivo) foram criadas desde o início da espécie, influenciando inclusive a formação humana. Uma vez que tudo o que é psíquico é pré-psíquico, cada uma de suas funções também o é, especialmente as que derivam diretamente das disposições inconscientes. Estas imagens primordiais denominadas de inconsciente coletivo são arquétipos ou modelos energéticos que influenciam toda a psique e também a forma humana.
As imagens primordiais existem em algum lugar celeste. Dentre as inúmeras imagens primordiais existe a imagem primordial denominada “anima”, preexistente e supra-ordenada que influencia diretamente toda estrutura humana.
O arquétipo “anima” possui uma variedade incalculável de formas astrais e mencionamos apenas algumas: a forma de mãe; avó; madrasta e sogra; uma mulher qualquer; ama-de-leite; antepassada; mulher branca; deusa; mãe de Deus, Virgem Maria, Sofia. Em sentido mais amplo: paraíso, reino de Deus, Jerusalém Celeste, Igreja Universal, o Céu, a Terra, a floresta, o mar, as águas quietas; a matéria; o mundo subterrâneo; a Lua; lugar de nascimento ou da concepção, a terra arada, o jardim, a gruta, a árvore, a fonte, o poço profundo, a pia batismal, a flor, círculo mágico, o útero, qualquer forma oco; o forno; o caldeirão; a vaca.
O atributo da anima é maternal; o feminino; a sabedoria; elevação espiritual  bondade; o que cuida; o que sustenta; o que proporciona as condições de crescimento; fertilidade e alimento; o lugar da transformação mágica, do renascimento; o instinto e o impulso favoráveis; o secreto; o oculto; o obscuro; o abissal; o mundo dos mortos; o devorador; sedutor e venenoso; o apavorante e fatal. “Anima” pode aparecer também sob a forma de um animal, de uma bruxa, fantasma, canibal, hermafrodita e coisa deste tipo.
O reflexo da “anima” no corpo masculino ou feminino difere bastante: o efeito típico nos filhos são o homossexualismo, o dom-juanismo e eventualmente também a impotência. No homossexualismo o componente heterossexual fica preso à figura da mãe de modo inconsciente; no dom-juanismo, a mãe é procurada inconscientemente em cada mulher.
A exacerbação do feminino significa uma intensificação de todos os instintos femininos, e em primeiro lugar do instinto materno. O aspecto negativo desta é representado por uma mulher cuja única meta é parir. O homem para ela é algo secundário; sendo essencialmente o instrumento de procriação, classificando como um objeto a ser cuidado. Primeiro, ela leva os filhos no ventre, depois se apega a eles, pois, sem os mesmos não possui nenhuma razão de ser. Este tipo de mulher, embora sempre parecendo sacrificar-se pelos outros, na realidade é incapaz de um verdadeiro sacrifício. Seu instinto materno impõe-se brutalmente até conseguir o aniquilamento da própria personalidade e da de seus filhos. Quanto mais inconsciente de sua personalidade for uma mãe deste tipo, tanto maior e mais violenta será sua vontade de poder inconsciente.
Nossas intenções conscientes são por assim dizer constantemente perturbadas e atravessadas em maior ou menor grau por intrusões inconscientes, cujas causas nos são inicialmente desconhecidas. A psique está longe de ter uma unidade; pelo contrário, ela é uma mistura borbulhante de impulsos, bloqueios e afetos contraditórios e o seu estado conflitivo é, para muitas pessoas, tão insuportável, que elas desejam a salvação apregoada pela teologia. 

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